quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Véu


Este tecido de ilusão que me recobre dita meus passos a partir do estampado. Esconde-me um todo, limita-me da vida. Enxergo através de sua pobre diafaneidade o universo maculado, borrado de minhas impressões mundanas, bordado de experiências antigas. Mal posso divisar dos corpos os contornos, ou dar nome aos tons que se confundem com tristes pigmentos do meu véu de viúva. O céu e os lírios que se puserem diante de mim serão sempre negros, os rostos virão sempre amargos, os homens lembrar-me-ão todos de ti. E os meus novos começos apenas me atinarão do nosso fim.

Lamento apenas esta cortina de ti que me deixaste, vetando-me da janela entreaberta para o restante dos meus dias. Agora acordo para somente ver o teto raso do nosso quarto de dormir, levanto-me e visto a mortalha da nossa história. Arrasto-me por anos que se encaixam em doze horas, para então me deitar no leito que compartilho com a sua ausência... E morro um pouco mais a cada suspiro.

Eu só sei morrer nesta vida sem ti...