sábado, 26 de janeiro de 2008

Vez

Ah, quando foi que me afastei da cega felicidade? A pseudo-satisfação dos sentidos, o prazer de voar numa gaiola de grades invisíveis?
Quando que escapei da prisão de mim mesma e, então, finalmente me fui por inteiro, fui o que sempre estive destinada a ser?
Quando das amarras do controle mundano me soltei para encontrar-me num céu de possibilidades infinitas?

Quando?

Vejo que viver transpassa a existência simples e banal. Vejo que viver é muito mais do que desejar a vida.

Viver é... não sei o que é viver, Meu Deus!
Viver me parece apenas não ser isto: tudo que já tentei até agora.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Perfeita

"Bata as asas, anjo."

Ela está perdida em um labirinto de vícios e virtudes, quando poderia acabar com tudo, sobrevoar seus obstáculos. Decidiu ser ordinária. Escolheu os desafios renegando seus dons, dons que a distinguem de tudo que quer ser: humana e imperfeita; normal.

Errante por um caminho incerto. Passa-se um, dois, três dias.
Mas ainda é um anjo, e suas asas pesam: "você é perfeita!"

Quatro, cinco; o anjo pára. Olha ao seu redor e vê-se entre quatro muros de pedra. Está presa. Afinal, o labirinto lhe reservou para agora o teste maior. Atordoa-se, e em um dos cantos se deixa cair, encostando a cabeça contra a pedra. Os seus olhos se fecham. Não há solução para alguém comum.
"Mas você é um anjo... Abra os olhos."

E acima dela um céu crepuscular sorri, estendendo-lhe um caminho de nuvens seguras.
É viver ou morrer, anjo.

Então bate as asas, ganha altura e voa em direção oeste: o pôr-do-sol.
Ela é perfeita.

Mistério

O mistério tem tudo. Tem tudo pelo simples fato de poder ser qualquer coisa.

Imagine um mistério: Uma incógnita. Um não saber de infinidades. Uma infinidade de soluções. Eis que o universo escolhe somente uma para que nela se aplique a verdade.

E quando você a encontra, meu caro... elementar que se sinta um Sherlock.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Pingüim, Hiena

Desengonça, pára, encara. Bate o bico e bate o pé. Deita de barriga e acabou: Pingüim te conquistou.

A Hiena ri, é peluda, come restos e ri.

Sério, quem você leva pra casa?



Hiena diz: Pingüim fede a peixe!
Pingüim diz: Hiena fede.
Hiena: Pingüim tem uma bicanca horrorosa!
Pingüim: Hiena é horrorosa.
H: Pingüim... Pingüim é bonito.
P: Hiena é fei... Ahm?
H: Pingüim é seu.
P: Tá legal... Eu sou seu! Viu? Ganhamos!

Você: Mas eu só queria uma hiena...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Ferro

Causou-me uma dor... dor que pesou na face, nos olhos. Que tremeu as mãos, juntou-me os dedos em aflitos estalares. Dor daquilo que não se esperava.
Apenas uma surpresa. Mas tudo sempre fora tão previsível! Foi como deparar-me com espinho na rosa tratada: tão pequeno e me incomoda; tão pouco, tão nada... e me corta!
Como pode? Eu sou de ferro, quase morta.

Fez-me esquecer que não se rima em prosa... e que mentira só combina com o nariz grande do Pinocchio.
Pelo menos, como já dito (ou mentido), sou de ferro, não madeira.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Consciência

E é assim: Paf!
Não sou mais interessante.
"E daí?"
Silêncio! Não sou mais interessante.
"É que já se sabe tudo sobre você, entende?"
Não, não mesmo. Não entendo.
Talvez...
Vou inovar, então.
Surpreender.
Ser nova.
"Ser outra."
Ser outra?
"É."
Não! Por que sempre me diz isso?
"Eu lá sei?"
Esquece, vou arranjar consciência mais interessante.