sábado, 27 de novembro de 2010

Oceano

Esse teu mar me conquista na ressaca, no tom ciano do teu olhar fixo, teu oceano. Caminhando eu descubro das ondas a areia, enquanto tua brisa refresca-me o rosto, o peito, a nuca; ajoelho-me nas dunas cruas.
Encaro-te, a plenitude do ser há de residir toda e sacra no teu espelho d'água. Desejo mergulhar em ti, em marés de humor, no profundo abissal do teu inconsciente. Eu quero complementar a diversidade da tua existência. Ando em direção ao teu sorriso claro, à tua boca aberta, o mar. Tornas a beijar-me os pés descalços, avançando sobre as minhas pernas nuas, e perco-me em abraços densos.
Nos meus lábios arde o sal do teu corpo, o gosto orgástico tatua-se em meu palato. Assim, minha língua molda a palavra arrancada do meu peito, jogada no teu colo, e ela permanece à tua superfície. Choro, não sei mais se és tu que me salgas ou o meu pranto: não me importa.
Essas águas tão revoltas me consomem. Mar de insanos anseios, puseste o meu juízo à deriva.
Eu mergulhei em ti pra me afogar, oceano.