domingo, 19 de dezembro de 2010

Tão cedo já é tarde

O amor me era tão mais doce antes de desembrulhado; descoberto, ele se nega aos meus caprichos. Quanto mais o vejo, mais o sinto, menos o tenho. Aquele todo prazer e plenitude dos teus braços mais e mais franzem-me o cenho, tu sabes... e a palavra que a tua boca não tece não pode aquecer meu coração errante. Coração perdido, perdido em sua certeza solitária. Como eu era feliz imersa em dúvidas, espontânea em minha ignorância crua de neófita. Eu te amo, o discurso me condena, arrasta-me ao fim de nós dois.
Perdoa-me por ocasionar o nosso ocaso.


Por prematura a fruta, mais velozmente ela apodrece: come-a toda antes que seja tarde.

sábado, 27 de novembro de 2010

Oceano

Esse teu mar me conquista na ressaca, no tom ciano do teu olhar fixo, teu oceano. Caminhando eu descubro das ondas a areia, enquanto tua brisa refresca-me o rosto, o peito, a nuca; ajoelho-me nas dunas cruas.
Encaro-te, a plenitude do ser há de residir toda e sacra no teu espelho d'água. Desejo mergulhar em ti, em marés de humor, no profundo abissal do teu inconsciente. Eu quero complementar a diversidade da tua existência. Ando em direção ao teu sorriso claro, à tua boca aberta, o mar. Tornas a beijar-me os pés descalços, avançando sobre as minhas pernas nuas, e perco-me em abraços densos.
Nos meus lábios arde o sal do teu corpo, o gosto orgástico tatua-se em meu palato. Assim, minha língua molda a palavra arrancada do meu peito, jogada no teu colo, e ela permanece à tua superfície. Choro, não sei mais se és tu que me salgas ou o meu pranto: não me importa.
Essas águas tão revoltas me consomem. Mar de insanos anseios, puseste o meu juízo à deriva.
Eu mergulhei em ti pra me afogar, oceano.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Nefelibata

Em meus caminhos nunca vi tão triste
Alma a errar-se em tanta linha reta,
E percebi da essência do poeta
Um trôpego porquê que inexiste:

O seu abarrotado caos insiste
Em perturbar-nos logo a face quieta
E pintar-se de tons que nunca viste,
Negando o não ser que o acarreta.

Pobre de quem nem mesmo pisa o chão,
Sobrevoando às nuvens a razão,
Íntimo da realidade abstrata;

Nunca há de saber do sim ou do não,
A esmo na agridoce condição
Eterna de viver nefelibata.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Mi

Mi mi mi mi mi mi mi.

:D

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Véu


Este tecido de ilusão que me recobre dita meus passos a partir do estampado. Esconde-me um todo, limita-me da vida. Enxergo através de sua pobre diafaneidade o universo maculado, borrado de minhas impressões mundanas, bordado de experiências antigas. Mal posso divisar dos corpos os contornos, ou dar nome aos tons que se confundem com tristes pigmentos do meu véu de viúva. O céu e os lírios que se puserem diante de mim serão sempre negros, os rostos virão sempre amargos, os homens lembrar-me-ão todos de ti. E os meus novos começos apenas me atinarão do nosso fim.

Lamento apenas esta cortina de ti que me deixaste, vetando-me da janela entreaberta para o restante dos meus dias. Agora acordo para somente ver o teto raso do nosso quarto de dormir, levanto-me e visto a mortalha da nossa história. Arrasto-me por anos que se encaixam em doze horas, para então me deitar no leito que compartilho com a sua ausência... E morro um pouco mais a cada suspiro.

Eu só sei morrer nesta vida sem ti...