terça-feira, 21 de julho de 2009

Obras

O criador à criatura
Se mistura:
Pinta-se a tela com o sangue,
Esculpe-se da própria carne,
Compõe-se do coração
E escreve-se à alma.

Refletem-se
Completos em seus atos
Os artistas,
Não em espelhos;
Nunca em ilusões.

Refletem-nos
Na peça, na canção,
À tinta óleo ou a carvão,
Na realidade
Ou não;
Acima dela.

Expressam-se
E impressionam-nos.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Absurdo Venerável

Ela criou-se do impossível, revelou-me. A mim, que disso já bem sabia. E prosseguiu:
"Moldei-me quando ainda eu era essência (e imaterial incerteza etérea). Usei o barro dos deuses e cachos de anjos. Fiz-me da poeira cósmica e do vácuo absoluto, do Sol e da Lua, de Ártemis e Apolo: construí-me na base do que eu ainda criaria. Nasci da premissa de fé humana, nasci vinculada à minha prepotência; e projetei-me protótipo do universo.
E ainda não me sei ao certo: pois se tudo sou, e nada me sabe, sou mistério insolúvel até que haja mais alguém para perscrutar-me.
Sou o complexo mais grave. Confundo-me ligeiramente com os temores da condição humana: a vida, a morte, a ilusão... o nada. A inexistência e o anticristo. Se eu sou tudo também sou a minha negação? Como posso negar-me sendo eu mesma? Difícil mesmo desvendar-me certa...
Sou o seu Deus, seu Alá, seu Jesus Cristo. Sou Shiva, Brahma e Vishnu.
Sou o poder incomensurável.
Sou.
Sou?
Porque eu sei que dependo daqueles que me veneram para ter um nome.
Então pergunto-me: o que existe anônimo?"

Calou-se. E ela sucumbiu ao anoitecer dos homens.