terça-feira, 30 de outubro de 2007

O Diabinho

Ele ficava sentado no meu ombro esquerdo. Sempre balançava as pernas de maneira infantil e despreocupada, encarando os próprios pés vermelhos. Era o meu diabinho. Ele ria demais. E me dizia cada coisa! Pra ele era tudo muito engraçado. Mas o diabinho me deixava nervosa. Às vezes ele me botava bobagem na cabeça... tinha uma visão muito desconfiada da vida para uma simples figura imaginária. Além disso, sua opinião era por demais independente da minha. Então, depois de algum tempo, passei a acreditar que ele de fato existia. E por que não? Afinal eu o sentia, eu o ouvia, eu podia vê-lo. O diabinho era tão real quanto eu.
Uma vez ele me falou tanto caso chatinho ao ouvido que gritei com ele. Pedi que sumisse. Pedi, não. Mandei, ora. Era meu diabinho, não era? Pois que podia fazer com ele o que quisesse.
Enfim... Mandei que sumisse. E não é que me obedeceu? Sumiu. Não o vi por tanto tempo que até me esqueci do pequeno. Não me fez falta o dito cujo por alguns anos.
Até que um dia... faltou-me maldade. Enganaram-me, veja você. A mim, que sempre tivera um diabinho. E então me bateu que talvez não o tivesse mais.
Pensei: Será que meu capetinha encontrou ombro melhor no qual se empoleirar? Estaria resmungando besteiras aos ouvidos de outro alguém? Como pude ser tão arrogante a ponto de achar que algo tão recheado de malícia poderia vir de mim e a mim somente servir?
Nossa, quantos pensamentos desconfiados.
Desconfiei.
E nessa hora olhei para meu lado esquerdo.
Os olhos negros do safadinho brilhavam, me fitando. As mãos, na frente da boca, tentavam sem sucesso esconder os dentes mais pontiagudos de um sinistro sorriso.
Sabia que estava de volta, a minha pequena malícia.
E descobri que nunca me abandonara... só me pregara uma peça.

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