quinta-feira, 26 de junho de 2008

Morangos

Eu sou terra.
Uma terra dura, embolotada e fétida. Terra marrom, sem-graça. Que suja, que é suja. Terra onde pisas, onde defecam os animais. Terra maltratada, machucada, da qual cavam do peito e do ventre e do meio da testa a matéria que é: terra. A que só te vê trabalhar e que não conhece nenhum dos teus prazeres no mundo. A que beija a sola de teus pés descalços.

Terra, a que é lama quando encontra a chuva.
A chuva é ela.

Ela refresca, é gostosa, roça teu corpo e molha a tua camisa. Escorre por tua boca aberta e sedenta, e te alivia. Mas a mim só transforma em lama. Em pastosa decepção.

Então resolvo que de mim brotarão morangos. Para sempre e só morangos. Vermelhos, suculentos, enormes e deliciosos morangos. Morangos que eu farei com a água que tiro da chuva.
Morangos que eu farei para ti.

Depois... depois a chuva pára.

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