Fiz-me inteira em porcelana, há tempos.
De propósito...
Eu quis, então virei boneca.
Pintei meu rosto,
Trancei os cabelos,
Fechei a boca,
Emudeci.
Vivi estátua
E não vivi:
Era o enfeite da sua mesa de cabeceira
E assistia a seu despertar
Calada, quieta,
Como eu podia.
Então de você me enraiveci,
Pois levantava e sumia!
(Eu ainda me pergunto aonde ia)
Mas ontem, meu rapaz,
Chegou o dia.
E eu ecoei um surdo "basta!" em minhas vísceras.
Espiei o precipício do seu móvel,
Atirei-me ao chão a meu modo inverossímil,
Explodi em mil pedaços de carne e osso.
Agora acho que acordei humana.