Aquela sombra no canto do quarto me persegue. Por todos os quartos e todos os cantos. Incomoda-me, é claro, simplesmente por não ser minha. Não sou eu. Acompanha-me, entretanto, a mim aderida como um apêndice, enquanto um paradoxo gira em torno de um vulto impreciso: não faz parte de mim, mas comporta-se como prolongamento de mim mesma.
O que é um canto escuro do meu quarto? Eu não sei.
Aquela sombra no corredor me perturba. Ela me encara; existe. Sólida como os meus temores, vaga como meus pesadelos: forte e intocável. Onipresente. Digo que não sou eu, não sou. Porque eu não me sou estranha, e não me sôo perigosa. Acaso qualquer um dos meus aspectos me escape, sei que, ao menos, sou capaz de identificá-lo. Eu não me perderia assim.
O que é que vive nos meus corredores? Eu não sou.
Aquela sombra acima da minha cama me tira o sono. Não consigo levantar os olhos, ver. Não quero ver mais, porque enxergar implica perceber sua existência constante e horrível. A essência dos meus medos tornou-se um vulto, e retorno submissa aos meus sete anos. As noites são impossíveis, solitárias, eternas. À noite eu sou uma criança.
O que é que flutua acima dos meus sonhos? Eu não quero saber.
Eu quero acender a luz, quero ascender à luz.
O resto é resto: apêndice.
Aê, finalmente atualizou... Se bem que vale a pena esperar para ter ago bom. Parabéns pelo texto
ResponderExcluiralgo*
ResponderExcluirVai escrever bem assim lá na academia!
ResponderExcluirConcordo com o Jamil e o tal do Marco.
ResponderExcluirSem palavras pro texto... muito bom!
Adorei essa frase "Porque eu não me sou estranha, e não me sôo perigosa." :B
To com saudadesinhasonas de você, Majúzete.
interessante escolha lexical utilizando antíteses e paradoxos imperceptíveis porém com boa eloquêcia de idéias capaz de perceber um exótico eu lírico
ResponderExcluirmuito bem minha cara Maria Júlia
''Eu quero acender a luz, quero ascender à luz.''
ResponderExcluirVocê nasceu pra escrever poesia. Como você tem mania de dizer que tudo é ''gay'', acaba sendo romântica nos seus textos de uma forma especialmente sutil e única... sem ser melosa, sabe, como Vinícius de Moraes (não que ele seja ruim, ele é O cara, mas a sua escrita é diferente da dele. Você tem seu próprio estilo, escreve da maneira que a faz se sentir bem, enquanto outros o fazem tentando imitar de certa forma o Vinícius. Enfim. Você é A cara e parabéns pela qüinquagésima vez por ter tamanho talento e saber valorizá-lo.
Querida "sombrinha", digo, sobrinha.
ResponderExcluirSeu texto é muito interessante e nos faz refletir sobre oposto/negativo - luz e sombra, influência indireta de sonhos e realidade. Dessa sombra, meio "translúcida", de obscura compreensão e breve inspiração, nasceu essa maravilhosa prosa tão poeticamente construída. Parabéns.
Bjos.