segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Ela

Ela simplesmente existe.
Está lá, vivendo a vida dela, cultivando todo e qualquer aspecto de sua personalidade batida e previsível. Eu a odeio, e quando penso nisso sinto vontade de chorar. Não quero odiar ninguém, principalmente Ela. Ela é digna de piedade, e pena dela é o que eu devia sentir. Tudo é tão errado quando a vejo. Ela parece feliz, mas eu sei que anda triste. E que chora, como eu choro quando penso nela. Mas Ela não chora por mim. Chora por minha culpa.
Por minha culpa, um balde de água fria às três da madrugada. Por minha culpa, um beliscão no antebraço durante um sonho com as estrelas. Por minha culpa, o fim. A realidade acertou-a no peito, na cabeça e na boca do estômago. E eu peguei o arco. E eu armei a flecha.
Ela me odeia. Mas não quer me odiar porque ainda não me conhece. Então sangra, porque gosta. Sangrar é melhor do que a angústia de ferir, e Ela sabe. Grita do submundo que é minha culpa, enquanto morre eternamente num mar vermelho. Criaturas negras voam ao meu redor e todas dizem que é minha culpa, porque é. É minha culpa.
Eu a odeio, mas não gosto disso.
Dela eu descobri que também tenho pena. E isso me destrói.
Ela me tortura em troca de um sorriso amarelo que durará dez segundos.
Mas Ela gosta.

2 comentários:

  1. você é o máximo quando tenta transmitir o que sente, ou alguma situação.
    de certa forma me identifiquei com esse texto ;)
    beijo, amiga =*

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