O tempo que eu não vejo,
não toco,
não sinto,
estaria lacrado noutros pretéritos,
secreto em falhas, em depressões,
oculto
nos sulcos do relevo da memória?
Esse tempo em minutos, segundos,
momentos,
em um piscar de olhos verdes
ou castanhos ou sedentos,
naqueles quartos em que nos perdemos
por trás de espelhos,
nos cantos dos móveis,
pelas janelas;
Ele, que vai às ruas
escoado na água do choro, do gozo,
ou apenas nas garoas ociosas,
segue corrido, viciado,
para o oceano em que não se mergulha
— se encara —,
aquele
infinito de possibilidades.
Passa em mim:
invade, inunda,
marca.
Será que tenho esse tempo todo?
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Mudos
A tua boca entreaberta
fechou a minha,
fechou a minha,
tranquei a voz na tua garganta
e pendurou-se a palavra.
Seguiu calada a farsa.
Eu até sonhei que gritava em mim
e pendurou-se a palavra.
Seguiu calada a farsa.
Eu até sonhei que gritava em mim
o teu silêncio,
Mas fomos nós que escolhemos ser
surdos.
Mas fomos nós que escolhemos ser
surdos.
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Recomeço em prece
A gente mudou tanto
para não ter mudado
nada.
Nada ainda, nada;
porque tudo que
a onda salga,
lava.
Onda, leva!
para não ter mudado
nada.
Nada ainda, nada;
porque tudo que
a onda salga,
lava.
Onda, leva!
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Silente
Eu quero gritar-te uma verdade
porque eu te devo,
mas até hoje eu não entendo
os meus motivos.
os meus motivos.
Não engulo aquele desejo
que não se conteve...
que não se conteve...
não,
que eu não contive.
Por quê?
Eu nem consigo mais sentir da saciedade
o gosto,
o gosto,
só o ranço do erro.
Mais adequado seria dizer:
"Hoje, os meus motivos
eu já não entendo."
eu já não entendo."
Apenas não me parece suficiente,
nada parece, nunca.
E me calo.
sexta-feira, 4 de abril de 2014
Parasita
Tenho tanto medo de te trazer de volta.
Temo arrancar da sepultura do tempo
O teu cadáver,
Reconhecer a minha imagem
Em teus olhos de vidro
E lembrar-me do gosto da tua carne,
Da textura da fibra
Arrebentada
Entre meus dentes,
Da dor
Que eu fiz sangrar e que,
Eu sei,
Ainda jorra
Sem torniquete,
De como eu fui verme.
Temo arrancar da sepultura do tempo
O teu cadáver,
Reconhecer a minha imagem
Em teus olhos de vidro
E lembrar-me do gosto da tua carne,
Da textura da fibra
Arrebentada
Entre meus dentes,
Da dor
Que eu fiz sangrar e que,
Eu sei,
Ainda jorra
Sem torniquete,
De como eu fui verme.
Não posso nem dizer de mim que
Foi a minha natureza
Podre,
Eu não me sabia parasita.
Ainda assim,
Quando houve fenda,
Foi a minha natureza
Podre,
Eu não me sabia parasita.
Ainda assim,
Quando houve fenda,
Falha,
Eu entrei na tua pele.
Que estrago eu fiz quando saí...
Eu entrei na tua pele.
Que estrago eu fiz quando saí...
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Fim
Um dia, talvez
eu entenda essa palavra que
de tão curta
é um ponto.
Mas não me furto a implorar por outra que escapa
e se indaga:
"Perdão?"
Eu sempre soube que não a merecia.
Só enxergo agora, porém;
não importa o meu mérito
ou a minha culpa.
Não importa o meu lado, porque
A palavra é sua.
Apenas me pertence a interrogação.
Espero que ela ainda tenha espaço
antes do fim.
eu entenda essa palavra que
de tão curta
é um ponto.
Mas não me furto a implorar por outra que escapa
e se indaga:
"Perdão?"
Eu sempre soube que não a merecia.
Só enxergo agora, porém;
não importa o meu mérito
ou a minha culpa.
Não importa o meu lado, porque
A palavra é sua.
Apenas me pertence a interrogação.
Espero que ela ainda tenha espaço
antes do fim.
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